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Quando o exibir é mais importante do que fazer
- 30 de julho de 2014Excesso de exposição na internet pode trazer problemas para as relações interpessoais
Carolina Arosa e Layla Neiva
No mundo virtual a cada momento existe uma febre, uma moda diferente. O fenômeno da vez se resume à necessidade de auto-exposição. O famoso selfie retrata atividades cotidianas, os momentos simples do dia a dia através de fotos tiradas de si. Contudo, vídeos, check-ins e status também são formas de exposição para os que buscam a popularidade na web, com o maior número possível de likes. Fotos no elevador, do look do dia e fazendo duck face (cara de pato literalmente, mas que nada mais é do que o popular biquinho feito especialmente por jovens do sexo feminino) são comuns na timeline da maioria dos usuários de redes sociais.
A necessidade da autopromoção é caracterizada por muitos como uma espécie de problema, capaz de gerar o fenômeno FOMO (fear of missing out, em português, medo de ficar por fora). Em uma explicação sobre o fenômeno ao jornal Estadão, a psicóloga Rosa Maria Farah destaca que se o FOMO pode não ser necessariamente um problema, “vai depender de com que frequência ele se conecta, se isso tem provocado prejuízos físicos, sociais, emocionais ou profissionais e também a percepção de exagero das pessoas que o cercam”, indicando que FOMO é o novo nome para algo que já existia.
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O inglês Danny Bowman, de 19 anos, foi o primeiro adolescente diagnosticado com vício em tirar selfies. Seu caso chegou a tal ponto que ele tentou suicídio depois de tentar inúmeras vezes encontrar seu ângulo perfeito nos autorretratos. Quando Danny tinha 15 anos e estava na escola, começou a tirar selfies com a intenção de chamar atenção das meninas. Ele chegava a gastar 10 horas por dia tirando selfies. Eram mais de 200 fotos até conseguir alguma que lhe parecesse perfeita.
Aos 16 anos, desistiu da escola e perdeu 14kg, usando seu tempo para tirar fotos de si mesmo em busca do ângulo perfeito. Depois de um dia inteiro em que ele não ficou satisfeito com nenhuma das fotos que tinha tirado, teve uma overdose e foi parar no hospital. A partir desse momento ele começou a se tratar e fazer terapia para cuidar do excessivo cuidado com a aparência. Hoje, aos 19 anos, Danny Bowman relata feliz que já tem mais de 6 meses que ele não faz selfies.
Numa série de estudos, a psicóloga Luciana Nunes, mestre em saúde mental, diretora do Instituto Psicoinfo e estudiosa da relação entre tecnologia e comportamento, salientou que existe três grupos de autores de selfies. O grupo do tipo exibicionista, formado por pessoas que gostam de mostrar o corpo, tirar fotos na academia, em frente aos espelhos, nos elevadores. O segundo grupo reúne aqueles que querem apenas mostrar seu estado de espírito, quando estão felizes ou tristes. E o terceiro grupo, composto pelas pessoas que se preocupam em mostrar onde estão, mesmo que a paisagem atrás não tenha tanto destaque assim.
A busca pela fama na internet chegou a tal ponto que é possível achar facilmente comércio de compra de seguidores e likes para todas as redes sociais. De forma anônima, as pessoas podem comprar pacotes de mil seguidores por R$ 60. Com o objetivo de passar credibilidade, esses novos seguidores possuem nomes fictícios, mas bastante comuns, como por exemplo, Gabriela Antunes ou Renato Andrade, que ainda podem deixar comentários com elogios em sua foto. Cada interação pode custar até R$ 4.
Uma vertente do selfie, a #afetersex designava que a foto foi tirada depois de uma relação sexual. Apesar de inusitada, assim que ela estourou na rede muitas fotos comprometedoras começaram a surgir. João Pedro, 25 anos, resolveu ser um dos adeptos dessa hashtag e postou uma foto sugestiva, com um #aftersex na legenda. “Não era nem a primeira foto que eu postava das nossas pernas na cama, mas resolvi colocar o #aftersex na legenda porque só se falava disso naquela semana e eu quis participar da brincadeira. Acontece que minha namorada não gostou nem um pouco e se sentiu super exposta. Apesar de achar que ela estava exagerando, ela me obrigou a deletar a foto e nunca mais fiz igual”, conta.
A exposição nas redes sociais e a divulgação de imagens pessoais sem controle pode trazer consequências negativas. A postagem de vídeos e informações íntimas podem gerar diversas reações em quem tem acesso a essas postagens. Temas relacionados a futebol, religião, politica e sexo são os mais polêmicos e sempre geram grandes discussões que, às vezes, acabam em manifestações de preconceito e bullying.
A exposição na internet, quando feita de forma descuidada, pode trazer problemas nas relações fora das redes sociais. O excesso de fotos e informações pessoais postadas, muitas vezes não são bem vistas, além de poderem tomar um caminho diferente daquele proposto. Assim, fica o alerta, a discrição continua sendo a melhor forma de se prevenir à exposição desnecessária. Essa febre mundial rendeu até campanha no Paraguai que alerta sobre seus riscos.